segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Máscara estrelar.

O cheiro cítrico que tanto gosto está colado no meu corpo. Delineador, ombros nus e os trechos daquela música (You're my best friend / But then you died) presos na minha cabeça. Procuro você na fila de fumaças risonhas e camisas xadrez. Mas não sei exatamente como é seu rosto. Esse é o problema.
Desencano. Fico a um canto, próxima à caixa de som. Escondida nas ondas de meus cabelos, observo. Observo aquela gente, gente diferenciada e viva. Mais viva na alma do que no corpo. As luzes coloridas e serpenteantes repentinamente chicoteiam o seu rosto e nossos olhares se encontram. Aquela vibração de Foals misturadas com álcool pulsam em nossas veias.
Era por você que esperava. Você sabe disso também. Tanto que se aproxima de mim. Me leva pra um lugar mais isolado. Risadas roucas, sem muitas palavras. Meus dedos passam pelas linhas onduladas da estampa de sua camisa. Eu gosto disso... Gosto de você, digo com um olhar já pesado e obscuro, feito aquela noite.
Enquanto você me prende contra a parede e começa a beijar meu pescoço, eu sussuro em seu ouvido embriagado a seguinte frase: "Você não é meu J.G., mas tudo bem..."
Sim, tudo bem. Porque você sabe quem é Dave Keuning e nós compartilhamos os mesmos ódios... Então serve. Naquele minuto, pelo menos, nós nos servimos. Superficial asssim. Sem promessas, sem expectativas. Puro egoísmo. E acabou.


 Pela primeira vez, sinta mais o ritmo do que as palavras.

domingo, 20 de novembro de 2011

Vida Cultural (retirado do livro Poesia & Teatro, de Vacláv Havel)


SEGUNDA-FEIRA   escritório    descanso    cinema    sono

TERÇA-FEIRA      escritório    descanso    televisão    sono

QUARTA-FEIRA    escritório    descanso    cinema     sono

QUINTA-FEIRA    escritório    descanso    televisão     sono

SEXTA-FEIRA     escritório    descanso    cinema       sono

SÁBADO            escritório    descanso    baile          sono

DOMINGO          sono          televisão     televisão      sono

sábado, 12 de novembro de 2011

Sapatos gastos em lugar nenhum.

Seus sapatos estavam gastos. Gastos de tanto andar. Sua cabeça latejava, as pernas ardiam. Setas apontavam para todas as direções. Estava completamente só naquele labirinto de vazios, porém escutava pontos de sussurros, vindos dos mais remotos lugares. 
Aquilo torna-se insuportável. Seus joelhos cedem. Tampa os ouvidos. E grita. Enche os pulmões de ar congelante e grita. Queria chorar. Mas não conseguia, pois não tinha mais lágrimas. Fica nessa posição por alguns segundos... Ou dias. Não sabia ao certo.
No meio da neblina, então, um ônibus velho chega aos chocalhos. Ele para bem em sua frente. Não havia nenhum motorista, muito menos passageiros. Não tendo nada mais a perder - nem a ganhar, também -, subiu no veículo. Em um baque, o ônibus toma partida e começa a vagar para Lugar Nenhum.
Seu rosto fantasmagórico olha para baixo. Meus sapatos estão gastos, nota. Os tira e os analisa entre os dedos ossudos. O couro estava prestes a arrebentar, o odor da sola era de podridão. Percebe, subitamente, que aqueles calçados eram pequenos demais se comparado ao tamanho de seus pés. Por isso que cada passo que dava doía tanto.
Em um ato que lhe pareceu muito natural, resolveu atirar os sapatos miúdos pela janela do ônibus. Deveria ter sido algo libertador, mas não foi, na realidade. E pouco importava. Tanto faz. "Apenas me leve para Algum Lugar", murmurou para o motorista invisível. E pegou no sono.



Walk in silence
Don't walk away, in silence
See the danger
Always danger
Endless talking
Life rebuilding
Don't walk away

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Obrigada por tudo. Até algum dia, quem sabe.

Logo quando tudo parece estar bem, logo quando eu me apego as pessoas, logo quando eu sinto que pertenço a um lugar é hora de dizer adeus. Sou horrível em despedidas. Dez meses atrás eu nunca diria isso, mas eu vou sentir falta do Ensino Médio. Mais do que eu poderia admitir. Vou sentir falta da rotina, dos professores, dos amigos que sei que perderei contato total.
Eu aprendi muito nessa escola. E por "aprender", não me refiro apenas ao conteúdo didático. Aprendi muito com as pessoas. Aprendi que é possível me simpatizar com algumas que, ao primeiro olhar, nunca trocaria uma palavra. Aprendi que ainda existem adolescentes com que se valha a pena acreditar. Até aprendi, ou melhor dizendo, entendi que não há problema em bancar a pateta. Às vezes, é claro.
Agora, me pergunto... Como dizer adeus? Ficar face a face com uma pessoa que foi de essencial importância para a minha formação nesse período de minha vida estudantil, e ter a consciência de que muito provavelmente eu nunca mais a verei é algo muito complicado. O que dizer? É preciso um discurso emotivo que faça todos soluçar em lágrimas? Ou um simples e ilusório "Obrigada por tudo. Até algum dia, quem sabe." basta?
E é por isso que sou péssima em despedidas. E em menos de duas semanas, estará tudo acabado. Todos esses três anos virarão somente lembranças. Lembranças que recordarei com muito carinho.
Confesso que há vezes que me arrependo em ter me apegado tanto a certas pessoas. Porque, diz a minha mente, assim eu não estaria com essa sensação ruim. Mas então, reflito outra vez. E mudo de ideia. Primeiramente, porque a separação é algo constante em nossas vidas. E, se eu não souber lidar com ela hoje, com certeza não saberei me lidar com ela amanhã. (Sim, eu e a minha racionalidade sempre...) Segundo porque, se eu nunca as tivesse conhecido, aqueles momentos de risadas e bem-estar nunca teriam acontecido. E, acredito eu, são esses tipos de memórias e pessoas que serão levadas comigo junto ao meu túmulo. Porque elas, sem dúvida nenhuma, definem uma boa parcela do meu eu. 


Days
Days are forgotten
Now it's all over
You've simply forgotten

sábado, 5 de novembro de 2011

Nós já temos rugas, pai.

Hoje posso finalmente dizer que eu aprendi a me lidar com você. Não significa que eu te entenda ou que foi tão simples assim. Porque não foi, ainda não é e acredito eu, nunca será. O problema, fora a pouca convivência, é por nós sermos muito parecidos. Pai e filha, viciados na vida profissional, calados, seres mais pensantes do que falantes.
Os tempos em que nós íamos aos parques, ora assustar as pombas, ora girar em brinquedos que te deixavam enjoado, ora ver teatrinhos repetidos da Mônica... Ou quando você cantava para mim e para minha prima no carro, me fazendo soltar gargalhadas doces feito borboletas?  E eu ainda falava, entre risos, "Para, pai!". Hoje eu daria tudo para te rever cantando, daquele jeito tão genuíno.  
Essas imagens, todavia, me parecem tão distante que poderia facilmente dizer que foram lembranças de outra vida. E saber que tempos tão leves quanto aqueles nunca voltarão, faz meu coração doer. Aquela criança de olhos amendoados e bochechas salientes mal sabia o quanto ela e o pai mudariam...
Me custou muito tempo e maturidade para compreender que nós não somos os mesmos. Que nós não nos enquadramos em uma relação de pai e filha qualquer. Que você não pode ser comparado a ninguém.
Me acostumei em vir duas vezes por mês em seu lar, que agora também considero meu; folhear revistas Veja enquanto você me serve salmão. Antes de dormir, você me dá um beijo de boa noite, como se eu ainda fosse a sua garotinha... É o seu jeito estranho de dizer que me ama. Confesso que ainda atendo decepcionada o telefone quando você diz que não vem. Mas tudo bem, porque isso já não me machuca.
Eu aprendi que você é desse jeito. Que nós funcionamos desse jeito. E que dificilmente vamos mudar. E estou bem com isso, porque finalmente aprendi a gostar de nós. Gosto de ter essa segunda casa, em que sei que posso contar, sempre.
Espero conseguir lhe dizer essas palavras um dia.


As my bones grew they did hurt
They hurt really bad
I tried hard to had a father
But instead I had a dad

I just want to you to know that
I don't hate you anymore

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Não é um texto sobre amor.

Tento compreender, inutilmente, porque raios você tanto aparece em meus sonhos. Você é um sujeito que simplesmente não tem nenhum atrativo. A sua personalidade faz o tipo que eu mais odeio no mundo... Como entender algo assim?
Olhe, não tenho a mínima ideia de como você está agora. E, sinceramente, prefiro continuar deste modo. O mais estranho é que acho que eu nunca te amei. E isso me confunde... Afinal, se nunca foi amor, então o que foi? Acho que nunca vou descobrir. Só o que sei é que senti alguma coisa, seja ela boa ou ruim. Pois entre as muitas poucas pessoas que passaram na minha vida, às vezes, é em você que fico a pensar. Logo em seguida, entretanto, apenas sacudo a minha cabeça, afastando sua memória... E facilmente consigo me distrair, longe de ti.
Não consigo lembrar de nenhum momento especial que me traz uma boa recordação em relação a você. Me pergunto, novamente, o porquê de você ter me marcado tanto. Será que foram nada mais que as suas brincadeirinhas que deixaram rastros na menina inocente da época? Ou talvez foi apenas o desejo de ter voltado no tempo e fazer com que tivéssemos uma história, de fato? Bem, honestamente, acho pouco provável.
Tenho consciência, contudo, de que nunca, em nenhum segundo desses últimos anos, você sequer mencionou meu nome em seu pensamento. Mas tudo bem, melhor assim. Não o culpo. Como esperar algo de alguém, sendo que nunca houve algo? Com um sorriso cabisbaixo e amargurado, te desejo boa sorte. Espero realmente, em um dia do meu melhor futuro, te encontrar. Pode ter a certeza que eu fitarei o fundo de seus olhos e farei uma expressão de surpresa ao ouvir seu nome, o qual, a essa altura, terá caído no meu esquecimento.  

Will I ever win?
Only time will tell
You got to suffer to remember how well
That are our ideals never really marched in time
That's the bottom line
Jilted lovers and broken hearts