domingo, 13 de julho de 2014

...Feito uma sonhadora de olhos vendados no meio de uma guerra.

É conta de luz, água, comida, telefone, convênio, transporte... Aí você começa a ter um olhar mais apurado e percebe quanta despesa a humanidade gasta pra ter o direito de respirar. Isso pra dizer o mais básico e desconsiderando pequenos luxos que vejo como,  praticados ocasionalmente, são essenciais para manter uma mente estável. 
Nunca me preocupei com dinheiro. Mas veio à tona, feito um tapa na cara, que isso é justamente por sempre ter tido. Creiam ou não, esse insight foi provocado através de um gif no tumblr. Obrigada (ou não), Rachel.
A minha mente afobada já dá um pulo de décadas adiante e pensa no dia que serei eu somente responsável pelo quesito financeiro. Fico pensando que precisarei desse mínimo para garantir um fim de vida decente para aquela que sempre fez tudo por mim. Não por dever, de forma alguma, e sim como uma retribuição de amor. Eu sei, é meio doentio pensar tão a frente, mas sofrer por antecipação foi sempre o meu lema, às vezes não dá pra evitar.
Mas então minha mente desacelera um pouco e tenta se recordar daquelas conversas já percorridas entre diversas bocas de que "Calma, Bárbara! Ninguém está com a vida pronta aos 20 anos". Com uma exceção aqui ou ali de herdeiros ou prodígios nível Steve Jobs, é claro. Mas no geral o status é o seguinte: Não tá fácil pra ninguém. 
E veja bem, por mais que garantido fosse, você gostaria de viver assim? Que nem esse bando de médico que fica trancado no consultório de cara fechada? Ou esses administradores que trabalham feito máquina com movimentos e falas decoradas? Você trabalha cerca de um terço da sua vida. E é assim que gostaria de gastá-lo? Certeza que aquela apatia voltaria. Se você, querido estudante a qualquer carreira profissional citada que seja, não se sinta ofendido. Claro que estou generalizando, sei que existem muitas pessoas que amam o que fazem e não são apenas rostos ambiciosos preocupados em comprar o próximo pingente da Pandora.
Acho que tenho certo preconceito com qualquer profissão convencional demais por ter convivido com gente da área durante muito tempo e por elas não terem me passado uma imagem muito boa. Mas reconheço seus valores  e importância que fazem na sociedade.
Enfim, essa desculpa funcional nem é a questão. É que, de modo geral, eu vejo essas tais pessoas como aficcionadas apenas pelo verbo "ter", sem nenhuma profundidade a mais. Tudo bem, todo mundo gosta de comprar, viajar e viver bem, mas falta algo... Algo que, Murakami definiu muito bem:  Falta curiosidade intelectual nelas. São aqueles jovens de Porto Seguro com mais idade, entende? Parecem só saber de sua área, nada além disso. Como se a profissão as definissem. Consomem tudo o que a mídia joga. Não há sensibilidade. Não se interessam em ler um livro sequer.
E eu, como estudante de artes, fico meio inconformada em aceitar que elas vivem tranquilamente assim, sem nenhuma coceira na cabeça. E mais inconformada ainda que são elas as que tem mais dinheiro e as que pior sabem gastar. 
Mas então, eu olho ao redor, vejo 90% das pessoas agindo e pensando exatamente como o descrito e me pergunto:
Quem é a desajustada afinal nessa história?


terça-feira, 8 de julho de 2014

Vôo 2Q14

acordei entre as brasas
de luzes fluorescentes
queimando em minha pele 
o incômodo de nada mais 
incomodar

é uma paz
leve, anônima
feito borboletas na estufa 
de uma anciã japonesa
que persiste no chá

são canções inéditas
com aquele gosto instantâneo
de novos ritmos 
novas batidas
novos ares
mesmo que no fundo
tenha exatamente
o mesmo estilo de sempre